Conduz o teu arado sobre os ossos dos mortos, Olga Tocarkzuk

Não tinha quaisquer expectativas sobre este livro, senão o de achar o título um pouco tétrico. E não tinha qualquer outro objectivo, senão o de ler um livro desta laureada com o Prémio Nobel, para poder ter uma noção da sua escrita, da qual tinha tido somente um breve contacto com um excerto de Viagens, no passado, na Noite da Literatura Europeia.

Ao entrar na sua leitura, o inusitado da trama e o tom rapidamente me conquistaram. Uma velha professora, que se dedica à tradução em parceria de William Blake, reside num pequeno lugarejo de 7 casas, a maioria delas desabitadas nos rigorosos invernos. Neste período, são somente 3 os habitantes do local. Até à morte súbita de um deles, pelo qual a velha professora tem verdadeira aversão, pois é um caçador furtivo e ostensivamente violento com os animais. Mas essa morte torna-se apenas a primeira de uma série de inesperadas mortes nos arredores. Em comum, as vitimas são todas caçadoras e na cabeça da velha a sua morte deve-se a uma vingança dos animais. Será?

Embora o final não seja surpreendente, aliás até eu torcia pelo desfecho apresentado, apreciei bastante a construção da trama e das idiossincrasias desta personagem. Através delas, a autora intrinca temas como a consciência ambiental e os direitos dos animais, a religião, a astrologia e a noção de destino, o isolamento social, a velhice e a demência, o crime e o castigo. O registo entre o gótico nórdico (?) e o caricatural e abstrato como formas de transversalidade, fazem desta uma história que cruza temas sérios de forma bastante apelativa. Para mim.

Tradução do polaco: Teresa Fernandes Swiatkiewicz | Editora: Cavalo de Ferro | Local: Amadora | Edição/Ano: 2019 | Impressão: Artipol| Págs.: 286 | Capa: Wonderstudio | ISBN: 978-989-668-667-3 | DL: 462501/19 | Localização: BLX Bel 82-31/TOK (80447105)

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