Consentimento, Vanessa Springora

Importa dizer que entre a leitura deste livro e a escrita destas palavras há um hiato de vários dias. Importa dizer que não me é fácil escrever sobre o mesmo, porque também não é fácil escrever sobre o tema. Importa dizer que é importante este livro ser lido por mulheres e homens. Importa perceber o que é consentimento hoje, o que foi e que tipo de conceito deixamos para o futuro. Importa perceber que diferentes tipos de consentimento existem, ou se podem depreender, e como é que nos impactam. Seja a que nível ou aspecto da nossa vida. Importa perceber que quem está para lá do consentimento depende quase sempre da nossa protecção. Importa perceber que este é um tema importante para qualquer mulher, porque quase todas nós tivemos de lidar com situações para as quais não estávamos preparadas e para as quais sentíamos que ninguém nos iria perceber ou sequer isentar (e reparem na carga desta palavra, para a qual não consigo encontrar substituta à altura). Por desconhecimento, por uma cultura de omissão, porque sempre foi assim, porque… porque… outras coisas mais. Importa dizer que este livro se devora, mas que a reflexão sobre o mesmo se demora.

Posto isto, e para quem possa ainda não saber, este é um dos livros sensação do ano, porque expõe para o grande público o caso de uma jovem que aos 14 anos viveu com um intelectual francês trinta anos mais velho com o aval familiar e da sociedade em redor. É um relato na primeira pessoa da mesma passados outros 30 anos, em que esta de um modo muito lúcido explica como é que tal ocorreu, todo o contexto desta relação e, claro, o impacto da mesma, que finalmente é exorcizado, porque exposto. É também o relato de uma tomada de consciência e da necessidade de que essa mesma tomada de consciência seja feita por toda a sociedade. Que a sociedade perceba a sua quota parte na protecção dos seus mais frágeis, que perceba que não pode simplesmente virar a cabeça e fingir que nada se passa ou fingir que é normal. Quando esta falhou todos os alertas, opiniões e manifestações em que este intelectual se assumia, não como um mero defensor da liberdade sexual, mas como pedófilo. E como tal, como esta permitiu que este seduzisse, atraísse, consumasse, vangloriasse e expusesse as suas “conquistas”.

Como já referi, este livro deveria ser lido por todos. Para melhor compreender uma realidade que não sendo óbvia é também cheia de nuances mas que nos afecta (directa ou indirectamente) muito mais do que julgamos.

Tradução: … | Editora: Alfaguara Portugal | Local:  | Edição/Ano: Set 2020 | Impressão: | Págs.: 184 | Capa: .. | ISBN: 978-989-784-049-4| DL: …/20| Localização: BLX Pax (emp)

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