O ano de 1993, José Saramago

Por motivos profissionais, ando de volta da obra de José Saramago. Não a estou a ler a eito, até porque já não sou esse tipo de leitora. Mas vou lendo com alguma regularidade, pelo menos pesquisando os volumes mais pequenos. Hoje, li este O ano de 1993 e a cada pequeno texto/estrofe a minha mente só repetia: mas isto é (tão) Gonçalo M. Tavares. Isso é mau? Não, claro que não. Apenas curioso.

Mas porquê tão GMT? Primeiro, pela questão formal: 30 capítulos compostos por pequenos textos/estrofes. Não são versos num sentido tradicional, também não são frases tradicionais, são objectos híbridos. Em tudo tão similar à escrita que GMT nos habitua. Depois, o conteúdo. Uma história abstrata de um colapso civilizacional, através de uma guerra a que se chega porque o homem em última instância está votado à (auto)destruição enquanto espécie e não escapa ao ciclo de violência. Termina num tom de esperança, de renascimento, mas sempre com lastro, pois somos inerentemente territoriais e tribais.

O interessante deste livro é que foi editado em 1975. Em rescaldo de um novo período político no nosso país, a experiência da ditadura e da violência é transporta para um ano futuro que quase 40anos depois ainda é tristemente actual. Um ciclo inglório e inquebrável a que nem a tecnologia consegue romper. Daí tanta similitude com a escrita de GMT e o porquê deste ser um dos herdeiros literários de Saramago.

Ilustrações: Rogério Ribeiro |Editora: Caminho| Edição/Ano: 1ª Ed. 1975, 3ª, abr 2007 | Local: LX | Impressão: Tip. Lousanense | Págs.: 120 | ISBN: 978-972-21-0287-2 | DL: 256096/07 | Localização: BLX PG82P-1/SAR (80298958)

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