As paredes têm ouvidos : sonno elefante, Giorgio Fratini

Entrei neste livro sem saber nada dele, nem nenhuma expectativa. Achei o título algo muito nosso, muito português, e intrigou-me que o titulo original fosse tão dispare: sonno elefante. Ao desfolha-lo percebi que retratava uma realidade portuguesa, daí a escolha do título português parecer tão nossa. As paredes têm ouvidos. Quantos da nossa geração não ouviram constantemente esta expressão? É a herança de uma ditadura, da falta de liberdade de expressão, da perseguição, opressão e tortura a que eram votados os cidadãos que tinham opiniões diferentes do governo e ousavam (ou não) pronuncia-la. Este livro leva-nos até à infame Rua António Maria Cardoso, sede da PIDE. Um local actualmente transformado em condomínio de luxo, ou coisa que o valha, mas que encerra em si a memória dos homens e mulheres que aí foram torturados e mortos. O autor explora assim o concavo deixado pela sua memória, personificada pela figura do elefante do título original.

Foi uma leitura inesperada e grata. Uma leitura que nos faz recuar a período negro da nossa história e cujos contornos do mundo actual fazem temer um retrocesso. Daí que seja uma leitura importante, para que a história não seja esquecida.

Título Original: Sonno Elefante | Tradução: Selena Testolina | Editora: Levoir | Local: ...| Edição/Ano: 2020 | Capa: Silva Designers | Págs.: 110 | ISBN: 978-989-682-855-4 | DL: 467867/20 | Localização: BLX PG 82 BD HI/FRA (80453281)

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