Confinamento 2.0 | Leituras


No primeiro confinamento, uma das dificuldades que senti foi a incapacidade de ler. Claro que não tive nenhuma incapacidade física que me impedisse o acto de leitura, mas o novo arranjo quotidiano retirou-me o meu espaço de eleição para a leitura: os transportes públicos. Demorei quase a totalidade desse período até acolher e reorganizar-me mentalmente para a leitura.

Entretanto, e nos meses que estive a trabalhar em espelho, a leitura passou a ser um momento ainda mais essencial do meu dia a dia. Tanto que, e como fuga aos ecrãs, penso que aumentei o tempo e, claro, a quantidade de leitura.

Ao perspectivar-se este segundo confinamento, comecei a preparar-me e a seleccionar diversos títulos para ler em casa. Entre leituras de cariz profissional, há claro as puras curiosidades e até uma ou outra carolice pessoal. Então, preparei-me com cerca de 20 livros e pensei: hum, mais olhos que barriga. Porquê? Porque vim para casa com a certeza de que seria por 2 semanas, eventualmente um mês, mas na verdade não sei quando regressarei ao local de trabalho. Então, na verdade, não faço a mínima ideia se realmente tive mais olhos que barriga ou se fui instintivamente realista. O certo é que estou a fazer as minhas leituras, cujo registo vou aqui deixando, mas começo a achar que pena não ter acesso directo a outros livros que entretanto estes me pedem.

Infelizmente, o nosso governo considerou que o livro não é um bem essencial. Infelizmente, a minha instituição optou por não contrariar ou encontrar alternativas às directivas do governo. Infelizmente, sinto que não estou a materializar a minha missão de levar os livros a outras pessoas. Infelizmente, estamos a semear a falta de acesso e diálogo tão necessárias à igualdade e à equidade de oportunidades. Infelizmente, haverá consequências a longo prazo.

E o que posso fazer entretanto? Continuo as minhas leituras, continuo a deixar aqui as minhas impressões, continuo a pensar o que poderei fazer quando regressarmos – porque haverá muito a fazer -, mas também o este momento me permite mesmo com todas as suas condicionantes. Continuo a tentar preparar-me o melhor possível, pois há uma certeza que tenho: nenhuma leitura se perde, todas nos transformam e, a longo prazo, estão em nós, prontas a emergir. Até lá, resisto e insisto.

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