Através de Rua de Paris..., ficamos a conhecer Gustave Caillebotte, um pintor que quase ficou apagado da história. Tanto, que para mim, e acredito que para a maioria, era totalmente desconhecido e que, após a leitura, tive imenso gosto em percorrer os quadros através da internet. Tenho aliás um de que gosto particularmente, Os Afagadores de Parquet.
Este Rua de Paris não é uma biografia, mas podia ser e assim o parece. Baseia-se nos dados conhecidos da vida deste homem e a partir da sua obra, a autora compõe a uma biografia imaginada num diálogo que trespassa o tempo e em que a ficção se assume como a forma pais sincera de compreender e conhecer o que já não é possivel. A única forma que preencher os vazios que o tempo e o silêncio vão deixando sobre a vida dos homens que não têm o seu nome inscrito na espuma da história.
A Autora, que assim se apresenta Autora em maiúsculas, e o seu processo de aproximação a uma vida, da qual resiste apenas uma obra quase esquecida e desvalorizada pelo seu tempo, é igualmente uma personagem deste livro. Uma personagem que não obstante a distância temporal se deixa fascinar por um quadro e de busca em busca pelo seu autor, estabelece um diálogo único. Como se de entre duas almas gémeas se tratasse. Um diálogo em que o tempo é uma dobra e apenas esta o conseguisse compreender verdadeiramente.
IRN aproveita também esta narrativa para assim começar a expor e assumir a sua ars poetica, que já vínhamos percecionando, e assume-se como Autora que já granjeou o espaço e domínio suficiente para se auto-relectir na escrita. Uma autora que inevitavelmente vamos continuar a seguir na expectativa do que de novo nos tem para oferecer.
Editora: Publicações Europa-América | Local: MM | Edição/Ano: 26ª , fev 2000 | Impressão: Gráfica Europam, Lda. | Págs.: 200 | Capa: estúdios PEA | ISBN: 972-1-02890-8 | DL: 146424/00 | Localização: BLX BECCE 82P-34/NAM (80378949)
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