Confinamento 2.0 | Pelo empate técnico

O dia 8 de Março está prestes a terminar, mas não queria findar o dia sem algumas impressões sobre o mesmo. Uma delas é que tenho dificuldade em fazer grandes celebrações. Porque este dia nasce de uma tragédia, uma tragédia que não está arredada nem do nosso presente, nem do nosso futuro. Lembro que há poucos meses, num país asiático, uma fábrica desabou e provocou a morte da maioria d@s trabalhador@s. 

O dia deve ser sempre assinalado, para que lembremos, sobretudo, de que o caminho ainda só está parcialmente percorrido. Nos países ocidentais, vamos um pouco mais à frente, mas não esquecemos nunca o que ainda há percorrer noutros hemisférios, ou até na nossa porta ao lado. Afinal, não é longe de nós que há famílias que praticam mutilação feminina. 

Ser mulher não é ser uma única coisa. Sei-o porque nunca me senti como muitas das minhas amigas, colegas e, claro, das mulheres da família que me antecederam e, também, das que me procedem. Somos mulheres de formas diferentes e há formas de ser mulher que ainda nem sequer conhecemos ou compreendemos. Sei também que pode ser assustador ser mulher em pleno poder da sua vida. Implica arriscar, tomar decisões, aceitar consequências, e, sobretudo, resistir. Mas isso foi o que sempre caracterizou ser mulher.

Pode ser assustador porque implica um novo redesenhar de tudo na sociedade, oportunidades, tempo, prioridades e o tão famigerado poder. É que quando este se equilibra, há sempre alguém que vê a sua esfera de influência diminuir. Isso custa. E também é preciso aprender isso, a aceitar que não se trata de uma derrota, porque não é isso, mas simplesmente um equilíbrio.

Ainda não estamos lá. Temos de continuar a trilhar o caminho. Em todas as esferas da nossa vida. Todos os dias em casa, alguns no trabalho, outros na rua, outros ainda aonde a vida nos levar. Até ao equilíbrio. Não acredito num equilíbrio matematicamente correcto, mas acredito no empate técnico. Ainda estamos longe, e basta um qualquer noticiário para perceber as várias violências a que mulheres, crianças, velhos, fragilizados ou inadaptados estão votados.

O dia está mesmo prestes a terminar. E ainda há tanto que poderia dizer, mas as palavras atropelam-se e atrapalham-se. Mas o que eu queria mesmo partilhar é que está nas nossas mãos, nos nossos actos, no nosso pensamento pel@ outr@ contribuir para o empate técnico. Não quero vencer ninguém, quero em conjunto atingir uma sociedade mais equilibrada. Com tod@s e por tod@s. 

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