O pai da menina morta, Tiago Ferro

Regra geral, a parentalidade altera todo o sentido de uma vida. Tornando-se a prole o grande sentido e significado da mesma. Então, o que se é depois da morte de um filho? O que persiste, para além de um invólucro sem sentido ou significado?

Este é um dos livros que mais gostei de ler nos últimos tempos. Pela crueza e pela esmagadora verdade que transmite. Para além da crueza da morte de um ente querido, do seu luto, traz a brutalidade da morte de um de um filho e da tentativa vã de a perceber. Quem é capaz de perceber a morte de um filho? Claro, que há a explicação lógica, mas essa nem por um milésimo de segundo significa que a morte de um filho, de uma criança, repentinamente, faça qualquer sentido. Não há sentido possível.

O registo é múltiplo e aparentemente aleatório. Um modo de replicar a dispersão, a confusão, a incapacidade de explicar ou dar sentido, o vazio incapaz de ser preenchido. A torrente do pensamento e os discursos do quotidiano moderno e tecnológico. Uma corrente de consciência actual, bem longe dos extensos parágrafos dos primeiros percursores.

É um livro duro. Quando é que a morte de uma criança não é um tema duro? Com uma perspectiva que não me tem sido habitual ver, a de um pai. Um pai que deixa de ser marido, trabalhador, filho, amante e passa a ser somente o pai da menina morta. Para o outro. Mas sobretudo, Para si. Porque não há ausência que possa ser descrita de outra forma. O pai da menina morta.

Editora: tinta da China | Local: LX | Edição/Ano: 1ª out, 2018 | Impressão: Eigal, IG | Págs.: 187 | Capa: Vera Tavares | ISBN: 978-989-671-456-7 | DL: 4456577/18 | Localização: BLX PG 82P(81)-31/FER (80453856)

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