"Mas será esta uma história verdadeira.”
Este é um objecto estranho. Não há outra forma de expressar
sobre ele. É estranho. Porquê? Primeiro, porque não sendo uma narrativa linear
e mesmo apresentando uma proposta de organização válida, transparece sempre uma
confusão, que não se percebe se é intencional ou se decorre de algum lapso
organizativo. Se tivermos em atenção ao título, então, sim, esta estranheza faz
sentido. Mas fico com a sensação de ser estranheza a mais e muita vezes sem a
ligação ou sequer necessidade de ser expressa. No entanto, é um texto que
demonstra uma capacidade de observação e maturidade muito interessantes, que se
revelam numa escrita com momentos muito bonitos de uma prosa poética.
O que é este livro? É um relato de memórias em que se
pretende explicar a estranheza perante o mundo que a narradora sempre sentiu e
sente. Este relato divide-se em cinco partes, tal como normalmente os conselhos
de horóscopo se organizam. Destas, para mim, a parte mais interessante é com
certeza a primeira, pois coloca-nos perante uma realidade que poucos de nós
conhecemos e não temos qualquer contacto: o mundo dos surdos e o modo como não
integrados no mundo, ou melhor, nos mundinhos das outras pessoas. As demais
partes por vezes tornam-se cansativas, pois embora apresentem reflexões
interessantes sobre, p. e., emigração, estratos sociais, desfasamentos entre
culturas, muitas parecem ser gratuitas e carecer de uma ligação mais entramada
entre si. Oi isso, ou simplesmente, deixei de lhe recolher um valor diferencial
que me atraísse. Mas fiquei, no entanto, curiosa para fazer outra incursão no trabalho da autora.
Título Original: La staniera | Tradução
do italiano: Vasco Gato | Revisão: Madalena Escourido | Editora: D. quixote |
Local: Alfragide | Edição/Ano: 1ª, Abr 2020 | Impressão: Eigal, IG SA | Págs.: 269
| ISBN: 978-972-20-6987-8 | DL: 468041/20 | Localização: Bel 82-31/DUR
(80451262)
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