Sempre estrangeira, Claudia Durastanti

"Mas será esta uma história verdadeira.”

Este é um objecto estranho. Não há outra forma de expressar sobre ele. É estranho. Porquê? Primeiro, porque não sendo uma narrativa linear e mesmo apresentando uma proposta de organização válida, transparece sempre uma confusão, que não se percebe se é intencional ou se decorre de algum lapso organizativo. Se tivermos em atenção ao título, então, sim, esta estranheza faz sentido. Mas fico com a sensação de ser estranheza a mais e muita vezes sem a ligação ou sequer necessidade de ser expressa. No entanto, é um texto que demonstra uma capacidade de observação e maturidade muito interessantes, que se revelam numa escrita com momentos muito bonitos de uma prosa poética.

O que é este livro? É um relato de memórias em que se pretende explicar a estranheza perante o mundo que a narradora sempre sentiu e sente. Este relato divide-se em cinco partes, tal como normalmente os conselhos de horóscopo se organizam. Destas, para mim, a parte mais interessante é com certeza a primeira, pois coloca-nos perante uma realidade que poucos de nós conhecemos e não temos qualquer contacto: o mundo dos surdos e o modo como não integrados no mundo, ou melhor, nos mundinhos das outras pessoas. As demais partes por vezes tornam-se cansativas, pois embora apresentem reflexões interessantes sobre, p. e., emigração, estratos sociais, desfasamentos entre culturas, muitas parecem ser gratuitas e carecer de uma ligação mais entramada entre si. Oi isso, ou simplesmente, deixei de lhe recolher um valor diferencial que me atraísse.  Mas fiquei, no entanto, curiosa para fazer outra incursão no trabalho da autora. 

Título Original: La staniera | Tradução do italiano: Vasco Gato | Revisão: Madalena Escourido | Editora: D. quixote | Local: Alfragide | Edição/Ano: 1ª, Abr 2020 | Impressão: Eigal, IG SA | Págs.: 269 | ISBN: 978-972-20-6987-8 | DL: 468041/20 | Localização: Bel 82-31/DUR (80451262)

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