Fan-fiction: guilty, guilty pleasure


Nas últimas semanas, andei a descobrir o mundo da fan-fiction. Ou melhor, os assombrosos multi-universos da fan-fiction. Estou maravilhada com a imaginação, a capacidade de escrita e a dedicação de certos fans às personagens e histórias que os conquistam e cativam.

Quantos de nós não imagina os nossos personagens para além das histórias que nos são apresentadas. Eu faço-o constantemente. Sobretudo, intriga-me sempre pensar as personagens alguns anos depois. Como é que a experiência da história os impactou, como é que integraram esse impactou ou transformação e como é que seguiram a sua vida. No entanto, nunca me tinha passado pela cabeça escrever esses devaneios. Mas, porque não?

Sim, porque não? Afinal, já há uma parte do processo criativo resolvido à partida: as personagens estão desenvolvidas e conheço-os, tal como o mundo e o quotidiano em que se inserem. Na fan-fiction, o que se faz é, por exemplo, complementar as histórias com cenas ou episódios a que não temos acesso, seja por não serem essências aos enredos principais, seja porque se dá seguimento além do final ou porque transportamos as características essenciais da história e do seu desenvolvimento para contextos alternativos e se faz as necessárias adaptações.

Há diversas plataformas de fan-fiction on line. Eu estive a percorrer diversas no Wattpad e fiquei realmente surpreendida com a qualidade que encontrei. Cheguei até a chorar numa delas. É claro que também há imensa palha, digamos assim, e cenas um bocado estranhas. Mas, creio que faz parte. 

Sobretudo, acho que a fan-fiction é um ótimo laboratório de escrita. Como? Permite treinar alguns dos processos de escrita, nomeadamente de estruturação do enredo, construção de cenas, desenvolvimento de diálogos, equilíbrio de momentos, entre outros. Pelo menos, na minha experiência. Sim, é verdade, rendi-me a este guilty pleasure e ando de volta de uma fan-fiction. Não será publicada, mas está a permitir-me ganhar mecânica, na organização da escrita, dos temas que quero abordar, como os distribuir por episódios e cenas, como os organizar de modo a que cada um tenha um arco narrativo próprio ou contribuam para o arco maior.

Tem sido um processo deveras interessante. Estou bastante empenhada e motivada, porque este processo me permitiu desbloquear uma mecânica que me será útil daqui para a frente. E estou a fazer tudo isto em inglês. Vá quase tudo. O que tem sido todo um outro trabalhar do domínio das línguas – quer portuguesa, quer inglesa - que estava muito, muito enferrujado. Tem sido um ótimo caso de aprender fazendo.

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