Os limites do humor

 


Há quase dez anos, escrevi o texto seguinte, que intitulei “De que rimos?”:

Herman José, um dos mais conceituados humoristas nacionais, tem como máxima “rir com e não rir de.” Mas a subjetividade do humor nem sempre permite perceber os limites desta máxima.

Então, de que nos rimos? Da brejeirice, da deselegância, do non sense, da paródia sofisticada, da incoerência política?

E há limites? Provavelmente cada humorista tem o seu: religião, futebol, politica, catástrofes, relações. Mas o certo é que há temas que têm sempre pano para mangas, como, p.ex., os relacionamentos amorosos.

E quando é que algum tema ou abordagem se tornam inconvenientes? Quando, enquanto espectadores – e talvez criadores, nos tiram da nossa zona de conforto. E não é esse o propósito do humor? Inverter as nossas linhas de pensamento e arrancar-nos da(s) zona(s) de conforto?. Não será o humor sempre de inconveniência?

Baseado no artigo “Humor de inconveniência”, de Nuno amado, em Forma de Vida, Abril 2013

Mantenho as palavras e talvez acrescente algumas que o tempo e a experiência me permitem.

Nestes dias fala-se muito dos limites do humor. Ora, eu acredito que em primeira instância o humor não pode, nem deve ter limites. Pelo menos não na cabeça do humorista. Uma vez que humor é subversão deve ter sempre um nível de inconveniência.

Claro que o humorista é inteligente, sabe que a sua piada terá impacto, e deve aferir qual o grau de impacto e inerente risco que está disposto a assumir. Por isso, muda a piada, lima-a de forma a tornar-se mais aceitável ou até põe de lado para um momento mais apropriado. Porque percebe que embora não deva ter limites, o público tem.

Não tenham qualquer dúvida, os limites do humor estão sempre (ou devem estar) no público. E o que para mim é uma piada de mau gosto, pode não o ser para o outro. Ou o que hoje não tenho capacidade para aceitar como piada, amanhã faz-se gargalhar até mais não. Eu é que decido não assistir a determinados humoristas porque não aprecio o seu modo de subverter a realidade. Ou assisto desconfortável porque sei que há um dedo a ser colocado na ferida. E há outros que não me fazem memória, porque não subvertem, apenas apresentam clichés e lugares comuns.

Sempre tive um sentido de humor muito cáustico. Consigo a perceber a piada pela piada. Também já me inibi de dizer certas piadas em determinados contextos porque percebi que não tinha público com jogo de cintura para tal. Porque lá está, tinha um público limitado e, com o mínimo de inteligência que me atribuo, percebi que não falia a pena gastar o meu latim por ali. Talvez seja uma limitação minha.

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