Sobre Elfried Jelinek: o que é realmente pornográfico?

Este mês, o Clube de Leitura das Galveias, é dedicado ao livro A Pianista da austríaca Elfried Jelinek, premiada em 2004 com o Nobel. Felizmente, o Clube tem tido bastante adesão, o que nos levou a ler os diversos livros da autora publicados em Portugal, pois não temos exemplares suficiente de A Pianista para todos os participantes. Eu acabei por ler Lust. Ou melhor, comecei a ler, pois eventualmente desisti.

Não gosto de desistir da leitura de um livro do Clube. Sinto que não fiz o meu trabalho por completo, que não cumpri o compromisso que assumo com os meus coleitores. Mas, por vezes, acontece. Com alguma pena, mas, neste caso nenhum arrependimento, pois creio que deu para perceber a lógica de escrita para este livro e que eventualmente se estende a outras das suas obras.

A autora tem uma escrita experimental que revolve entre metáforas que se tornam difíceis de seguir e compreender, tanto que a própria tradutora se viu na contingência de explicar a impossibilidade de traduzir esta autora. Dei por mim a perder constantemente o foco de leitura, pois nem sempre há uma informação concreta à qual nos agarrarmos. Sentimo-nos no meio de um devaneio verbal desconexo.

Quanto aos temas, acabou por ser mais fácil perceber. Mais fácil como quem diz… Jelinek não navega entre temas fáceis. Poder inquestionado e submissão, abuso institucionalizado e estrutural, corrupção, escravatura, papéis de género, sexismo.

Lust é descrito como um romance pornográfico. É o. Mas a escrita complexa dificulta-nos a compreensão, quer de uma trama ou enredo, quer da própria compreensão de cenas e reflexões. Dei por mim inúmeras vezes a desejar que fosse realmente algo pornográfico na aceção mais básica que temos do que é pornografia. Seria mais fácil, mas não seria realmente a mesma coisa. Na minha compreensão do texto, a autora pretende confrontar-nos com duas premissas:

  • o que é realmente pornográfico? O sexo e o modo como nos é apresentado, ou tudo o que pode estar à jacente do mesmo, como poder e abuso sobre o outro, seja sob que forma.
  • O que é que torna algo pornográfico? Mais do que os atos e pensamentos, a linguagem.

Não sei se vou retornar à escrita de Jelinek. Por um lado, tenho vontade de perceber se o estilo (ou a tradução) é em tudo semelhante ou apresenta variações que tornem a leitura mais acessível. Por outro... por outro, pode ser que lhe dê outra oportunidade, pois fiquei curiosa relativamente a Os Excluidos, cujo tema me transporta para Pão de Açucar, do Afonso Reis Cabral, a que também ainda não me dediquei e talvez fosse interessante tecer algumas comparações. A ver vamos…

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