Queremos mesmo conquistar parte dos 61% não leitores?


Eu sei, já se passou imenso tempo sobre o famigerado estudo aos hábitos culturais nacionais que indicou que em 2020 cerca de 61% dos portugueses não leu um único livro. Na comunicação social, muito se foi dito. Sobretudo tentativas vãs de se compreender o fenómeno, mas, sobretudo, pouco sobre o que se faz verdadeiramente para inverter este estado. Infelizmente, este número não me espanta.

Ora, em bibliotecas, uma das nossas missões será chegar a esse público não leitor e conquistá-lo para a leitura. Idealmente. Na prática, estamos um pouco longe.

Paradoxalmente, tenho a benesse de trabalhar sobretudo com públicos leitores. O que é sempre um desafio. Mas este é o público que não receia a biblioteca e que vê nela uma possibilidade de acesso ao livro, à cultura, ao conhecimento, à aprendizagem. O problema é que os 61% não estão nas bibliotecas. Não vão às bibliotecas. Então, importa perceber onde estão e sair da biblioteca e ir ao seu encontro. Vamos? Pela minha experiência, não.

A abordagem das bibliotecas à leitura e o seu trabalho de promoção é essencial à criação de hábitos de leitura e de desmistificação do livro. O seu trabalho junto de determinados públicos, como o infantil, é incontornável. Mas o público infantil não será com certeza aquele que responde a inquéritos, certo?

Então, como estamos a conquistar o público adulto, aquele que trabalha 8 ou mais horas diárias e depois despende cerca de mais de 2 a 4 horas em transportes para chegar a casa, na qual @ esperam ainda as exigências domésticas? Aquele para quem a biblioteca, os seus horários e a postura de alguns funcionários (cada vez menos é certo, mas sim, ainda existem) são inibidores? Aqueles com quem se tem de fazer um trabalho de base, mas não simplista, sobre a leitura? Aqueles para quem temos literalmente de sair da biblioteca e ir ao seu encontro, pois têm problemas de mobilidade?

Pois, querer todos dizemos que queremos, mas depois, na prática, o não é a resposta concreta.

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