Este é um daqueles livros que possivelmente todos ouvimos
falar, mas que provavelmente poucos lemos. E não pela dimensão, que corresponde
ao que seriam 5 cartas manuscritas pela dita freira portuguesa e publicadas em
1669, em França.
Cheguei ao livro, pois a leitura de Outubro do Clube de Leitura
da Biblioteca Palácio Galveias será Novas Cartas Portuguesas. Então, achei que
era o momento de ler uma das origem deste diálogo entre as nossas três Marias.
O que dizer então sobre estas cartas? Nada sobre se serão
realmente da autoria de uma freira ou de outrem. Que literariamente não consigo
sentir nenhuma riqueza em particular, mas pode ter sido interessante – para a época
– este discorrer sentimental sobre paixão, amor, sedução e perda?
Para mim o traço mais relevante é com certeza os momentos em
que aborda os direitos inexistentes da mulher. Não sabemos porque terá ido Mariana
para o convento, uma vocação não foi. Foi uma obrigação. Sabemos que a família poderá
ficar ofendida ou não com a sedução masculina, mas é ser um bocado dúbio. O que
se sabe é que a relação retratada era de conhecimento geral, e até facilitado e
quiçá incentivado quer das responsáveis pelo convento. Aliás, toda a descrição
de “enamoramento” à varanda é tão, tão dúbia ao olhos de hoje, que não consigo ver
toda a situação como se um prostibulo de luxo com oferta de certificado de
virgindade.
É estranho ler estas cartas aos olhos de hoje, nesta nossa geografia.
Desconheço muito do que se diz sobre as Cartas e do porquê da sua importância. Mas
à luz de valores atuais é um texto tristemente celebrado pelo sentimento pueril
e ingénuo de uma jovem enredada numa teia de sedução, que, muito naturalmente, sublimou.
Afinal, que mais lhe restava?
Tradução
(a partir do francês): Eugénio de Andrade | Editora: RTP | Coleção: Edição
bilingue | Local: … | Edição/Ano: mar 1980
| Impressão: Scarpa | Págs.: 80 | fotos: Manuel Costa da Silva |
ISBN: … | DL: … | Localização: BLX PG 82P-6/ALC (00266650)
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