A casa-comboio, Raquel Ochoa

Esta foi a minha primeira incursão na escrita desta autora e há muito que andava para ler este A Casa-comboio, uma recomendação de uma leitora por quem tenho muito apreço e com quem tenho trocado muitas impressões de leitura ao longo dos anos. O título, bem conseguido, o tema pouco explorado na nossa literatura, o repatriamento dos portugueses das colónias indianas, e o facto desta primeira obra de ficção ter sido premiada suscitavam-me curiosidade, mas não posso dizer que tenha entrado na sua leitura com demasiadas. Iniciada e volvida cerca de um terço da leitura eram perceptíveis os méritos e os pontos que menos me agradavam nesta narrativa.

Para uma primeira obra ficcional, a autora propôs-se um grande desafio: percorrer quatro gerações de uma família. Ou seja, esta história tem uma abrangência de cerca de 120 anos, uma enorme diversidade de personagens interessantes, imensa informação histórica, cultural e inúmeras descrições de uma região romantizada pelo oriente. Gostei desta história, mas… há sempre um mas, não é? Mas, pela primeira vez, ao ler um livro, sinto que este suportava mais cem a duzentas páginas. Normalmente não é o que sentimos, pois não? Então, o que falta?

Aceito a descrição de eventos, lugares e algumas questões culturais. Mas não aprecio personagens apenas relatadas. Gosto da premissa da escola de escrita americana show, don’t tell e de facto a autora apenas me diz as personagens, não me as mostra nas suas nuances, nas suas dúvidas, nos seus erros, no seu crescimento e até desilusões. Gostava de ter tido essa profundidade e daí, dado o manancial de personagens com que somos brindados, sentir que o livro poderia suportar uma maior dimensão. Essa é a grande lacuna desta história e que a faria um ou até o grande relato literário desta demanda familiar e histórica. Este é um traço que espero a autora tenha desenvolvido nos seus trabalhos ficcionais posteriores.

Não sei quando voltarei à escrita de Raquel Ochoa, ou em que registo, ficção ou viagens. Mas sei que voltarei, pois considero que tem bastante potencial e estou curiosa para perceber a sua evolução.

Revisão: Alda Rodrigues | Editora: Gradiva| Edição: 1ª, mar 2010 | Local: LX | Impressão: Multitipo | Págs.: 334 | Capa: Armando Lopes | ISBN: 978-989-616-360-0| D.L.: 307376/2010 |Localização: BLX SL 82P-311.6/OCH (80195487)

Comentários

  1. Olá Adelaide! Como disse no último clube de leitura, este ainda não li, mas pelas apreciações tão positivas fiquei com vontade. Desta vez, comecei pela literatura de viagens e adorei. Um dia lê os "Pés na Terra" e aí tires as tuas conclusões.

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