Já há muito que queria fazer esta leitura, mas confesso que o tema me dava uma certa falta de coragem. Os temas duros, ainda para mais baseado num facto real, têm este efeito: causam-nos algumas reticências. Temos receio de nos confrontar com a maldade e a injustiça que, suspeitamos, pode haver em cada um de nós.
Pois, chegou
o momento. Comecei a leitura lentamente, a adiar o inevitável confronto. Avancei
e a cada passo fui apreciando as capacidades deste autor, que embora jovem,
revela uma maturidade literária e um olhar próprio sobre o mundo. O embate
chegou? Claro. E claro que me fez revoltou e revolta. Com a realidade que
tentar apresentar, não como a presenta.
Como muitos poderão saber, o autor segue
o grupo de jovens que em 2006 espancou até à morte Gisberta, uma mulher
transsexual. O tema e a abordagem do autor tem-lhe valido criticas e reparos vários.
Alguns terão alguma validade, outros revelarão desconhecimento do conteúdo e
falta de compressão da intenção do autor. Afinal, mais facilmente vemos o que
queremos ver, certo?
O que posso dizer? Que, mesmo que a ficção
sobre a figura de Gisberta seja imperfeita – é uma ficção-, senti-a sempre
respeitosa. Que percebermos o que motivou estes jovens não é desculpa-los, mas
sim percebermos que, enquanto socieade, também falhámos com eles. E continuamos
a falhar com certeza com tantos outros eles. E com tantas outras Gisbertas ou Robertos
ou sejam quais forem os nomes de tantas realidades que não compreendemos nem
parcial nem totalmente.
Esse é o grande mérito deste livro:
confrontar-nos com a nossa incapacidade de, mais do que compreender, aceitar o
outro diferente, nas suas fragilidades, mas também nas suas inúmeras coragens
para mudar o seu destino.
Editora: D. Quixote | Revisão:
Madalena Escourido | Local: LX | Edição/Ano: 1ª, set 2018 | Impressão: Eigal,
IG | Págs.: 262 | Capa: Rui Garrido | ISBN 978-972-20-6599-3 | DL: 444067/18 |
Localização: BLX BPG 82P-31/CAB (80428762)
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