A História de Roma, Joana Bértholo

 


Neste momento, a pouca ficção de JB que ainda não li resume-se aos vários contos dispersos por coletâneas. O que mais aprecio na sua escrita é a capacidade de se diferenciar de registo para registo, quer em temas, quer em formas. Uma intenção que a mesma afirma. Por isso, quando entro numa das suas ficções essa é uma das minhas expetativas: porque caminho não percorrido me levará?

A História de Roma será o mais convencional romance de JB e, não exatamente por isso, o que permitirá uma identificação com o leitor. Correção, com as leitoras, independentemente da geração a que pertençam. Já não farei spoiler nenhum ao salientar que o grande tema do livro é a não maternidade. Poderia ser a não parentalidade, ou como JB escreve falta ainda vocabulário positivo para certas escolhas, mas também é sobre as mulheres que recai quase toda a pressão social para a parentalidade.

Claro que é mais. É o retrato de uma geração que ganhou mundo e não se consegue prender às convenções das gerações anteriores. É a geração da mobilidade, da precaridade (mas terá alguma não sido) explicita, e para a qual (teoricamente) não há limites.

Li este livro quase numa assentada. Que, estranhamente, não me levou para uma zona de desconforto, mas de reconhecimento. O que não é frequente. Urgia este livro, urgia este tema para que todas as mulheres cujas vidas não passam pela maternidade se possam reconhecer e sentir representas. Urgia as questões que JB coloca para que a sociedade reflita e dê um passo para a não exigência, para a não pressão. Basta.

Editora: Caminho | Local: LX | Edição/Ano: 1ª, 2022 | Impressão: Multitipo | Págs.: 308 | Capa: Rui Garrido | ISBN 978-972-21-3171-1 | DL: 502805/22 | Localização: BLX Bel 82P-31/BER (80506284)

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