O que lemos depois dos centenários?

 

@ Jornal das Caldas

Faz parte da programação em bibliotecas assinalar os centenários de autores nacionais. Para muitos leitores, é o primeiro contacto com a sua obra além do eventual conhecer o nome. Para mim, acabo por integrar esse desafio de leitura através do Clube de Leitura. Alguns exemplos têm sido Saramago, Agustina e Natália Correia.

Uma constatação transversal aos três é que a sua leitura requer leitores com competências de leitura acima da média. E uma das perguntas que me assola sempre e que costumo colocar aos leitores é exatamente esta: voltamos a estes autores após os centenários? A resposta da maioria é não. Mas aqui coloco uma exceção em Saramago, A quem voltamos anualmente e que em cada livro encontro motivos para que seja um retorno esperado.

Comparando estes três, certas ou erradas, partilho as conclusões a que cheguei:

- porquê compara-los? Porque em termos de estilo, têm uma mancha de escrita habitualmente compacta e um uso vocabular erudito.

- mas e o que os diferencia? As temáticas e a abrangência. Com Agustina não encontro muita surpresa no universo que explora. Ou seja, a cada obra parece-me um novo olhar à lamela de uma certa sociedade nortenha e duriense em extinção, esteja ou não ciente dela. Já de Natália, não conheço tanto que me permita tecer outras elações, mas a sua erudição soa-me muitas vezes demasiado pomposa e soberba para que seja apelativa. Já em Saramago, consigo encontrar em cada livro uma viagem diferente mesmo que me leve por temáticas semelhantes. Há sempre a procura de dizer de outra perspetiva. Tal como há um quê de abstração que nos permita transpor as realidades tratadas para outras sociedades e será essa, por ventura, a razão para o reconhecimento e atribuição do Nobel.  

Neste momento, estou a ler A Caverna, de Saramago, e só das páginas iniciais já estou aliciada para a restante leitura. 

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