Já há muito que
andava para me dedicar a este livro. No outro dia, passou-me pela mão e não o
deixei escapar. Curiosamente, um ou dois dias depois, ao pesquisar para a sessão
do Clube de Leitura dedicada a Laços de Família, da Clarice Lispector, percebi
que os dois títulos foram publicados com poucas semanas de diferença e que as
autoras assumiam uma admiração publica reciproca.
É um livro de cru
que trespassa uma sinceridade de quem não tem nada esconder porque simplesmente
não tem nada. É o registo / tábua de salvação de uma mulher que vive e cria os
seus filhos dia a dia, tostão a tostão, sem saber se a cada dia conseguirá
comida e sustento. Mas também uma mulher que não cede a pressões sociais óbvias:
não cede ao alcoolismo simultaneamente entropece e potencia a pobreza; não cede
À pressão de se juntar a um homem, que na verdade não acredita que a vá salava
seja do que for, senão o contrário; não cede ao comportamento das outras
mulheres da favela, com as quais em nada se identifica; não cede à ilusão do
poder politico às suas promessas vãs; não cede à atração da morte como resposta
à falta de esperança.
Não sendo
livros comparáveis, lembrei-me recorrentemente de Se isto é um homem, de Primo Levi,
pelo registo de uma experiência limite, miséria e ausência de perspetiva. Também
não sendo comparável, é curioso como os temas da família e da expetativa social
sobre a mulher é como que o reverso do registo ficcional de Clarice.
Independentemente
de comparações ou reminiscências, creio que é um daqueles livros que todos devíamos
ler. O quanto antes melhor.
Editora: Editora ática |
Local: SP, Br | Edição/Ano: 10º ed, 11ª reimp, 2019 | Impressão: EGB | Págs.: 200
| Capa/Ilustrações: Vinicius R. Felipe| ISBN: 978-850817127-9 | Localização: BLX BECCE 82P(81)-94/JES (80453272)
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