Não
somos sempre os mesmos leitores. Transformamo-nos ao longo do nosso percurso
leitor. Seja porque a vida acontece e as nossas prioridades se alteram, logo os
nossos hábitos e ritmos de leitura. Seja porque a leitura de certos livros nos
abre perspetivas e horizontes. Esta transformação é normal. Estranho seria o
contrário.
Então,
é normal que ocasionalmente tenhamos de fazer luto(s) literário(s). Sim,
existe. E, diria mais, é desejável. Ou queremos ser sempre os mesmos leitores,
mesmo quando já não somos as mesmas pessoas? Não me parece.
Como
em qualquer luto, é inevitável que nos traga despedidas e tristezas. Afinal, é
com tristeza que nos despedimos de leituras de conforto, que por vezes nos
acompanharam durante anos ou que fizeram parte da nossa construção enquanto indivíduos.
Quando há leituras que nos baralham e desconstroem, isso significa que autores
e géneros que antes nos davam prazer e faziam sentido, deixam de o fazer. A
cada nova leitura que mude o paradigma e estabeleça novas perspetivas, há um
possível luto literário. Nem sempre. Por vezes é só um crescimento de que nem
sequer damos conta. Outras, há todo um processo a que necessitamos de nos dar
tempo. Um processo que envolve choque, negação, adaptação e aceitação. (Deve
faltar aqui uma fase qualquer.)
Tenho
tido alguns lutos literários. Não muitos. Mas sim, há autores e géneros que me
acompanharam em determinados períodos e, agora, não sinto vontade de
revisita-los. Prefiro, inclusive, ler algo que desconheço a reincidir. (Reverso:
também me faz passar ao lado de ótimas obras.)
E
vocês, também têm lutos literários no vosso percurso leitor?
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