Caramba, 30 anos...

 


Faz este início de ano lectivo 30 anos que entrei na faculdade. 19941924, o meu número de aluna. Quando há poucos meses me apercebi deste facto, fiquei momentaneamente estupefacta: 30 anos? Como? Quando? E outro pronomes interrogativos…

Em retrospectiva, falando-se de formação, a estes 30 anos equivalem umas quantas vidas profissionais. Dizem que qualquer profissional hoje em dia deverá passar por 7 etapas profissionais no mínimo. Eu já tenho algumas cumpridas e sinto, muitas vezes, que a qualquer momento posso encetar uma nova.

Começando pelo curso, não foi uma escolha muito consciente, mas natural. Das várias opções e aptidões, não fazia sentido fugir das línguas. Então, Língua e Literaturas Modernas, variante Português/Inglês foi o nome oficial e da altura. Hoje, as terminologias são outras e Bolonha trouxe outras possibilidades. Fui feliz neste curso, mas acredito que o sistema à medida actual me seria mais aliciante.  

Quando terminei a faculdade, a opção mais óbvia seria o ensino. Não me sentia minimamente preparada para tal e comecei a ganhar experiência e competências através das habituais empresas de trabalho temporário e anúncios diversos. Algumas foram boas, outras nem tanto, mas creio que no geral foram positivas, mesmo as que não correram tão bem e foram mais curtas.

Quando, algures em 2003 me candidatei a um lugar por tempo determinado para a Casa da Juventude de Sintra, nunca tinha pensado numa ligação à função pública. A verdade é que, dois anos depois, novamente a concurso, efectivei. Na altura, pensei que a minha restante vida profissional seria naquela casa. Não foi.

Em 2015, num concurso para técnicos superiores, ingressei na Camara de Lisboa e fiquei afecta às Bibliotecas, uma vontade que manifestei na entrevista e que fiquei a saber na avaliação da mesma que não foi bem visto. O facto é que cá estou.

Nunca pensei ser mediadora de leitura. O meu grande sonho de adolescência, pasmem ou não, era ser crítica de cinema no Se7e. O que melhor poderia haver do que ser paga para ver filmes?

Pensando bem, o sonho não mudou muito. Apenas de formato. Afinal, leio e trabalho histórias, apenas num suporte diferente. Não o original da oralidade, mas o primordial da transmissão no tempo.

Estou numa casa que prezo muito. Imperfeita, como todas as casas, mas que me permite não só viver o sonho, mas contribuir para o sonho de outros, para que a a magia das histórias permaneça. Por vezes, penso que dei uma grande volta para aqui chegar. Mas como sabemos, em qualquer jornada do herói, chegamos sempre quando e onde nos esperam.

Se permanecerei sempre aqui? Talvez sim, consigo com certeza imaginar-me aqui. Talvez não, já aprendi que nem tudo o que julgamos ser a nossa vida assim o é.

Uma coisa é certa, aquele percurso que iniciei há 30 anos faz cada vez mais sentido e regozijo-me sempre que recuo lá atrás e vou buscar ensinamentos de diversos professores. Prof.ª Maria de Deus, o ano passado dei a conhecer Um Quarto que seja Seu a várias pessoas que não só não tinham lido Virginia Woolf, como não tinham lido este texto seminal na escrita por mulheres. Prof. Caldeira Gomes, este ano começo uma temporada do Clube de Leitura com Shakespeare e muitas das suas palavras ainda ressoam na minha memória. E poderia falar sobre outros professores e aprendizagens que fui aplicando, sobretudo, neste últimos anos. Mas este texto já vai longo.

Caramba, 30 anos…

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