O que
é ler? O que é politico? Ler é pausar, acolher, refletir e, idealmente, ver o
mundo de forma diferente. Ser político é observar o que me rodeia, tentar
compreende-lo e, sempre que possível, agir de forma a ser um espaço público
melhor para mim e, idealmente, para quem me rodeia. Não se pode ser político sem
ler, talvez se possa ler sem ser político, ou talvez seja essa a nossa forma de
ser político: passar pelo mundo de forma indelével.
O que
posso dizer da minha experiência de leitura é que é política desde há cerca de
30 anos. Não só pelas escolhas que faço - em busca de uma diversidade de vozes,
experiências, geografias e culturas, que gostava que fossem mais amplas do que
consigo - mas também pelas escolhas e sugestões que tenho oportunidade de fazer
e repercutir no âmbito do meu trabalho.
Primeiro,
há que salientar o manancial de obras a que tenho acesso sem quaisquer
restrições a não ser eventuais inexistências e listas de espera. Só esta
possibilidade confere-nos não só uma liberdade, como também uma
responsabilidade de escolha: quero alargar horizontes ou mante-los a uma curta
distância?
Depois,
em consequência, tenho a oportunidade privilegiada de partilhar leituras. Ao
faze-lo, estou ciente do seu possível impacto. Então, procuro que este seja
também nesse sentido: de alargar perspetivas que, por sua vez, permitam acolher
outras. Que esta não sejam simples ações de adição, mas sim de multiplicação.
Umas vezes a semente germina, outras permanece latente, outras nunca singrará. Faz
tudo parte. O mais interessante é perceber que algumas destas leituras seguem
depois para outros leitores que sequer conheço. O que vos posso dizer é que
impacto as leituras de cerca de 40 a 50 pessoas, por mês.
Uau.
Há momentos em que acho isto realmente extraordinário. E embora possa ser
transitório – e um pouco presunçoso -, sim estou a ser política nas minhas
leituras e sim estou a impactar quem me rodeia. Haverá algo mais político do
que isso?
*Reflexão
a partir de uma questão pelo @filipeheath no Instagram
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