Já há algum tempo que andava para descobrir a escrita de
Fernando Ribeiro (FR), depois da recomendação de @negrocomoanoite, foi desta.
(Precisava de um ano – sem atividades -só para por em dia as sugestões de
leitura dos meus leitores). Que bom descobrir mais um autor nacional, que além
de criatividade domina a técnica narrativa e a linguagem.
Este Café Kanimambo tem vários momentos. Num primeiro
momento, são nos apresentadas – em diversos capítulos – várias personagens,
aparentemente sem ligação entre sí, mas que nos dão uma imagem de um certo
período e de diversos grupos sociais, que têm como elemento em comum o verão
algures na Lagoa de Albufeira, na margem sul do tejo. A seguir, começam-se
gradualmente a tecer ligações. Não todas. Entram em cena os demónios de algumas
personagens, que darão então a trama e a possibilidade ao autor de tecer uma crítica
social ao país, principalmente aos donos disto tudo, seja o poder político,
seja quem o financia. No qual poderemos reconhecer escândalos que uma história
recente do país, em que crime e castigo não andam de mão em mão.
Sabiamente, FR leva-nos por um percurso crescendo em que
recupera uma ideia de justiça. Não a justiça social e de tribunais em que
acordamos e desejamos que funcione. Mas na incapacidade desta, turvada por
pressões e influência, o autor reclama para as suas personagens uma justiça
pessoal. Aquela que por vezes sentimos necessidade nos nossos âmagos, mas que a
nossa formatação societal deixa para as instituições. Num final, para mim
simultaneamente inesperado e realista, dá-nos o que às vezes apenas conseguimos
ter através da ficção, uma sensação de que a justiça pelas próprias mãos é a
única forma de justiça.
Revisão: Rui Augusto | Editora: Suma das Letras
(Penguin Random House) | Edição: 1ª, mai 2023 | Local: LX | Impressão: Printer
Portuguesa | Págs.: 142 | Capa: Duarte Lázaro | ISBN: 978-89-784-609-0 | D.L.: 513747/23
|Localização: BPS P-31 RIB CAF
BPS
Comentários
Enviar um comentário